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Era hora da Maria ouvir mais uma história contada pelo pai. O pai da Maria pegou num livro de capa colorida e começou a ler:
- Era uma vez …
- Oh pai outra história começada por “era uma vez”!
- Não gostas destas histórias?
- Gosto, mas quero ser eu a contar uma história, pai.
- Que história, Maria?
- Uma história para não esqueceres nunca, pai.
- Podemos tentar! Queres começar Maria?
- Sim!
- Havia um menino que vivia num sítio muito pobre onde os homens faziam a guerra todos os dias. A guerra já existia antes do menino ter nascido. Por causa dela o menino era muito pequeno e ainda não sabia ler nem escrever. O pai dele, também, lhe contava histórias sobre como era o sítio onde eles viviam antes de haver guerra. Era um sítio com casa pintadas de cores vivas, passeios com pessoas, estradas com carros e jardins floridos e com relva onde os meninos podiam brincar. Hoje, as casas não tinham paredes nem janelas e os meninos viviam nas suas caves, escondidos dos homens que fazem a guerra. As pessoas e os carros já não andavam pelas ruas porque estas estavam cheias de buracos e lixo. As flores dos jardins já não existiam, estavam todas mortas e no lugar da relva havia só terra.
Nesse sítio os adultos e as crianças eram muito magrinhos porque não havia comida para comer todos os dias.
O menino estava sempre à espera que a guerra dos homens acabasse para poder crescer, ser grande, aprender a ler e a escrever e brincar com os amigos num sítio colorido e alegre.
Um dia, o menino, o pai e a mãe conseguiram fugir para longe da guerra e dos homens que faziam a guerra. Fizeram uma viagem muito grande para procurar, novamente, casas coloridas, pessoas nos passeios, carros nas estradas e jardins com relva e flores de todas as cores, mas o menino só encontrou um mar sem fim que o levou para sempre para longe do pai e da mãe. Já contei a história, pai. Porque estás triste?
- Porque é uma história muito triste.
- O menino da tua história tem nome, Maria?
- Sim pai, o nome do menino era Kurdi.
- Porque inventaste esta história tão triste, Maria?
- Não inventei, vejo e oiço na televisão, todos os dias, quando jantamos e tenho de estar calada para veres e ouvires as notícias, pai. Pai, não me digas que não te lembras o que aconteceu ao menino chamado Kurdi? Esqueceste?
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